segunda-feira, 3 de maio de 2010

2010


2010 amanhecera diante de seus olhos. O céu já claro, iluminado pelo sol, exibia poucas nuvens, indicando que aquele seria mais um dia quente. Voltou-se novamente para o mar. Visto dali, o movimento das ondas tão coordenado parecia ignorar todo o resto. Como se o sentido da existência fosse unicamente o seu movimentar-se. Suas idas e vindas nunca eram iguais. Sabia exatamente o momento de ir e vir e até que ponto da areia branca podia chegar.

Fechou os olhos por um instante. Aprazia-se a ouvir o som do mar. Era como se lhe falasse, ora suave, ora tão intensamente. No entanto, nunca conseguia discernir o que lhe era dito, mas sabia que tinha a ver com a existência de algo maior que ela, soberano, eterno, ao mesmo tempo misterioso e luminoso. À medida que ouvia aquele som, ele ia ficando mais alto do que seus pensamentos, até o ponto de despertar nela uma sensação de arrebatamento que culminava com uma mansidão da alma.

Pensou em entregar-se àquelas águas. Tirou os sapatos - aqueles usados na grande festa da noite anterior ... olhou em volta... não viu ninguém. Mas, desta vez, parecia não se sentir sozinha. Então, lentamente, começou a caminhar em direção ao mar. Foi quando lhe ocorreu que qualquer intervenção humana não caberia naquela paisagem. Apesar disto, e justamente talvez por isto, via-se como uma extensão da imagem; não como se fizesse parte daquilo, mas como se tivesse parte com aquilo. Se seguisse, desperdiçaria aquela harmonia. Conteve-se com as ondas que lhe encobriam os pés. Aquilo era um convite do mar para entrar em sua casa ou era um aviso informando de que ela havia avançado demais?

Vendo aquela cena, alguém diria que ela estava apenas cumprindo um rito de passagem comum neste dia do ano tão tipicamente marcado pela sensação de possibilidades. E, em certo sentido, tratava-se mesmo de uma transição, mas não é fácil atravessar o caminho imaginário entre o nada inicial e o nada final. 2010 estava apenas começando...

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